CONHECEREIS A VERDADE E A VERDADE VOS LIBERTARÁ

Falou-lhes outra vez Jesus:
– Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.
A isso, os fariseus lhe disseram: 
– Tu dás testemunho de ti mesmo; teu testemunho não é digno de fé. 
Respondeu-lhes Jesus: 
– Embora eu dê testemunho de mim mesmo, o meu testemunho é digno de fé, porque sei de onde vim e para onde vou; mas vós não sabeis de onde venho nem para onde vou. Vós julgais segundo a aparência; eu não julgo ninguém. E, se julgo, o meu julgamento é conforme a verdade, porque não estou sozinho, mas comigo está o Pai que me enviou. Ora, na vossa Lei está escrito: "O testemunho de duas pessoas é digno de fé" (Dt 19,15). Eu dou testemunho de mim mesmo; e meu Pai, que me enviou, também o dá.
E lhe perguntaram: 
– Onde está teu Pai? 
Jesus respondeu: 
– Não conhe­ceis nem a mim nem a meu Pai; se me conhecêsseis, certamente conheceríeis também a meu Pai. 
Essas palavras proferiu Jesus ensinando no templo, junto aos cofres de esmola. Mas ninguém o prendeu, porque ainda não era chegada a sua hora.
Jesus disse-lhes: 
– Eu me vou, e vós me procurareis e morrereis no vosso pecado. Para onde eu vou, vós não podeis ir. 
Perguntavam-se os judeus: "Será que ele vai se matar, pois diz, "para onde eu vou, vós não podeis ir"? 
Ele lhes disse: 
– Vós sois cá de baixo, eu sou lá de cima. Vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo. Por isso vos disse: morrereis no vosso pecado, porque se não crerdes no que eu sou, morre­reis no vosso pecado.
– Quem és tu? – perguntaram-lhe então. 
Jesus respondeu: 
– Exatamente o que eu vos declaro. Tenho muitas coisas a dizer e a julgar a vosso respeito, mas o que me enviou é verdadeiro e o que dele ouvi eu o digo ao mundo.
Eles, porém, não compreenderam que ele lhes falava do Pai. Jesus então lhes disse: 
– Quando tiverdes levantado o Fi­lho do Homem, então conhecereis quem sou e que nada faço de mim mesmo, mas falo do modo como o Pai me ensinou. Aquele que me enviou está comigo; ele não me deixou sozinho, porque faço sempre o que é do seu agrado.
Tendo proferido essas palavras, muitos creram nele. E Jesus dizia aos judeus que nele creram: 
– Se permanecerdes na minha palavra, sereis meus verdadeiros discípulos; conhecereis a verdade e a verdade vos livrará.
Replicaram-lhe: 
– Somos descendentes de Abraão e jamais fomos escravos de alguém. Como dizes tu, "sereis livres"?
Respondeu-lhes Jesus:
– Em verdade, em verdade vos digo: todo homem que se entrega ao pecado é seu escravo. Ora, o escravo não fica na casa para sempre, mas o filho sim, fica para sempre. Se, portanto, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres. Bem sei que sois a raça de Abraão; mas quereis matar-me, porque a minha palavra não penetra em vós. Eu falo o que vi junto de meu Pai; e vós fazeis o que aprendestes de vosso pai.
– Nosso pai – eles replicaram – é Abraão!
Disse-lhes Jesus: 
– Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão. Mas, agora, procurais tirar-me a vida, a mim que vos falei a verdade que ouvi de Deus! Isso Abraão não fez. Vós fazeis as obras de vosso pai. 
Retrucaram-lhe eles: 
– Nós não somos filhos da fornicação; temos um só pai: Deus.
Jesus replicou:
– Se Deus fosse vosso pai, vós me amaríeis, porque eu saí de Deus. É dele que eu provenho, porque não vim de mim mesmo, mas foi ele quem me enviou. Por que não compreendeis a minha linguagem? É porque não podeis ouvir a minha palavra. Vós tendes como pai o demônio e quereis fazer os desejos de vosso pai. Ele era homicida desde o princípio e não permaneceu na verdade, porque a verdade não está nele. Quando diz a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira. Mas eu, porque vos digo a verdade, não me credes. Quem de vós me acusará de pecado? Se vos falo a verdade, por que me não credes? Quem é de Deus ouve as palavras de Deus, e se vós não as ouvis é porque não sois de Deus.
Responderam então os judeus:
– Não dizemos com razão que és samaritano; e que estás possesso de um demônio?
Respondeu-lhes Jesus: 
– Eu não estou possesso de demônio, mas honro a meu Pai. Vós, porém, me ultrajais! Não busco a minha glória. Há quem a busque e Ele fará justiça. Em verdade, em verdade vos digo: se alguém guardar a minha palavra, não verá jamais a morte.
Disseram-lhe os judeus: 
– Agora vemos que és possuído de um demônio. Abraão morreu, e também os profetas. E tu dizes que, se alguém guardar a tua palavra, jamais provará a morte... És acaso maior do que nosso pai Abraão? E, entretanto, ele morreu... e os profetas também. Quem pretendes ser?
Respondeu Jesus: 
– Se me glorifico a mim mesmo, a minha glória não é nada; meu Pai é quem me glorifica, aquele que vós dizeis ser o vosso Deus e, contudo, não o conheceis. Eu, porém, o conheço e, se dissesse que não o conheço, seria mentiroso como vós. Mas conheço-o e guardo a sua palavra. Abraão, vosso pai, exultou com o pensamento de ver o meu dia. Viu-o e ficou cheio de alegria.
Os judeus lhe disseram: 
– Não tens ainda cinquenta anos e viste Abraão...
Respondeu-lhes Jesus: 
– Em verdade, em verdade vos digo: antes que Abraão fosse, eu sou.
A essas palavras, pegaram então em pedras para lhas atirar. Jesus, porém, se ocultou e saiu do templo.

- JOÃO 8, 12-59.

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